Bom dia...
Mais alguns meses sem escrever e estou de volta. Na verdade, sem muito o que escrever... sem muita inspiração... mas uma tentativa de retomar este exercício bacana que é escrever. Sobre o que se pensa, sobre o que se vive, sobre o que se sente. De toda sorte, este é uma forma de dar fluidez a uma série de pensamentos que às vezes dão a impressão de sufocar meu cerébro. E como não tenho a "penseira" do Dumbledore....
Em mais uma visita às postagens antigas deste blog, acabei encontrando outra que se encaixa perfeitamente em situações vividas no presente. Na ocasião, escrevi sobre os sentimentos de dificuldade e medo do envelhecer. Mas, pior que isso, de ver nossos entes mais queridos envelhecendo. Uma postagem com quase cinco anos, cuja opinião - sempre sincera, diga-se - expressou algo que eu ainda encarava como muito distante, mas que se aproximou de mim com tamanha rapidez que me fez perceber o quanto não estou preparado para certas coisas... para certas etapas.
Em quase cinco anos meu medo de envelhecer não mudou muito. À época 27 e hoje com quase 32, não vejo muito diferença a não ser pelos cabelos brancos que jamais chegarei a ter em função do acelerado estado de calvice em que me encontro. Aliás, noto uma aparição muito grande de fios brancos em minha barba e em alguns pontos do corpo... mas nos cabelos, eles não vão aparecer... fato! O que é uma pena, pois sempre me imaginei com a vasta cabeleira branca do Antônio Fagundes e seu jeitão de coroa sexy... fazer o quê!? Acho que vou estar mais para Ary Fontoura que pro Fagundão!!!
Em quase cinco anos, as dúvidas se tornaram certeza e os medos, uma realidade. Apesar de ainda não me preocupar tanto com meu próprio futuro - sim, eu ainda faço planos a longo prazo -, vi meus pais passarem a planejar suas vidas a um prazo muito menor. Se ao tempo daquela postagem eles eram totalmente independentes, altivos e saudáveis, hoje o quadro é bem diferente. Situações que ocorreram - e que não são objeto da postagem - tornaram a vida dos dois mais complicada. O surgimento de algumas doenças, o constante estado de fragilidade, o desenvolvimento de uma grande dependência... tudo isso aconteceu... tudo isso mudou a vida deles... tudo isso mudou minha própria vida
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Há quase cinco anos, num rompante de inspiração - ou simplesmente de pieguisse - disse que "envelhecer significa aproximar-se da morte... ter de conviver com doenças... limitações... preconceitos... desrespeitos... preocupações... medo"! Tentei expressar o ponto de vista de quem envelhece e vê aproximar cada vez mais a jornada mais misteriosa da vida, mas esqueci de apresentar o que pensam aqueles que assistem aos seus entes mais queridos envelhecerem... os que acompanham de perto esse caminhar para o linha de chegada - ou seria de partida? - das pessoas que se ama.
E por isso cá estou de volta. Outra vez!
Meu pai, com 74 anos, minha mãe, com 63. Ambos doentes (ele cardíaco, ela portadora de lúpus), e que ainda por cima desenvolveram doenças crônicas mais sérias (ele com insuficiência renal, ela com anorexia). Tem sido duro olhá-los e saber que estão com tantas dificuldades. Tem sido duro olhá-los e não vê-los mais sorrindo. Tem sido duro abraçá-los e sentir meus braços envolvendo corpos debilitados, frágeis, sensíveis. Não sentir mais um aperto de mãos com firmeza vindo de meu pai... não sentir um abraço apertado de minha mãe... e saber que, mesmo com toda a informação, educação e formação que tenho, nada posso fazer para mudar esse quadro... nada posso fazer para ajudá-los a não ser estar presente.
Como disse naquela e nesta postagem, meu medo de envelhecer ainda não existe... mas ver meus pais envelhecendo, além de medo, tem me despertado um sentimento de dor e desespero que nunca havia experimentado. A sensação de despreparo para o que pode vir a seguir tem me causado um desespero muito grande, pois não sei o que farei... como suportarei a ausência deles. Ainda não consigo me imaginar sem os conselhos e longas discussões com minha mãe. Sem as conversas futebolísticas com meu pai. Sem os abraços, beijos e companhia de ambos. Difícil. Muito difícil!!
Relendo algumas postagens, li também postangens antigas de um blog antigo de um grande amigo. Um blog que foi encerrado justamente com a perda de seu pai. Lá, em sua postagem final, ele afirma que ninguém está preparado para o fatídico momento e como o mesmo é bastante dolorido. "Viver de lembranças", foi a expressão utilizada. E quando penso nisso, meu coração dói, um nó na garganta se aperta e as lágrimas tentam sair à força. Minto... faço força para impedi-las de sair, para que ninguém veja meu medo, para que meus pais não o sintam, para que eles não se preocupem com isso também. Sinto-me egoísta ao extremo por dizer isso, mas a verdade é que não estou pronto! Ainda não!! Ainda tenho netos para lhes dar, problemas a apresentar, conselhos para pedir!
Meus pais envelheceram... fato! Meu medo de perdê-los aumentou exponencialmente nesses quase cinco anos... outro fato! Acho que poucas vezes na vida não soube o que fazer diante de uma situação, digamos, adversa - que nem é tão adversa assim, se tivermos em vista que é uma fase natural da vida - mas que impressiona pelo sofrimento causado... pela dor imposta.
A verdade é que, independente do meu medo, do meu despreparo e do tempo que leve, nada posso fazer para impedir que meus pais envelheçam. Para os que, assim como eu, acreditam em Deus, só posso colocar nas mãos dEle os nossos destinos. Amém!
Se tudo não acabar em 21/12, desejo a todos um bom natal e um excelente ano novo. Senão, bom armagedon pra todo mundo, do mesmo jeito!!!
"O verdadeiro mal da velhice não é o enfraquecimento do corpo, é a indiferença da alma".
André Maurois
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